Quantas vezes nossa atenção é sequestrada por nossos pensamentos, ao ponto de realizarmos algumas ações sem nem saber, ao certo, como fizemos?

São tantas informações, preocupações e afazeres que tem sido muito comum não lembrar de como chegamos, do que falamos, do que comemos, do que ensinamos ou aprendemos e do que ainda falta fazer. Passamos a maior parte do tempo operando no modo automático, ou seja, o corpo realiza uma tarefa e a mente outra; geralmente, estamos ruminando o passado ou o futuro, nos afastando da consciência do momento presente, o que afeta nossas atividades diárias e nossos esforços para descansar, prejudicando nossas relações e nosso desempenho.

Dessa forma, como podemos ter relações saudáveis, se não estamos presente de mente e corpo, praticando a escuta e o olhar atentos? Como podemos nos desenvolver se não estamos ali de verdade, mas sabotamos a oportunidade de aumentar nosso repertório de aprendizagem?

Mindfulness – em português, significa Atenção Plena – é o processo de recuperar a consciência do tempo presente, aproveitando cada experiência com qualidade de presença, de uma maneira mais gentil e sem julgamentos. Isso não significa parar os pensamentos; eles vêm e vão, fazem parte da natureza humana, sendo impossível detê-los.

A grande decisão está em como reagir a esses pensamentos! Primeiro, frear o julgamento e, assim, diminuir a reatividade e a ruminação; depois, dar a real importância à situação, mensurando com consciência o seu tamanho efetivo. Dessa forma, focamos no que realmente precisa ser olhado e cuidado, permitindo remover boa parte da complexidade das coisas; com mais leveza e estando ciente do que se pensa e sente, direcionamos a mente ao instante presente, com clareza e sabedoria.

Independentemente do quão turbulento foi o dia ou quantas questões problemáticas surgiram, o ato de estar presente pode tornar tudo mais simples, menos desgastante; ao estar consciente, existe você e a questão, sem um bilhão de coisas a mais com as quais você se preocupa. É viver minuto a minuto, uma coisa de cada vez.

Felizmente, a Atenção Plena, que é uma habilidade muito escassa atualmente, pode ser estimulada com treinamentos sistematizados, favorecendo o bem-estar emocional, as relações interpessoais e o desenvolvimento das múltiplas inteligências. Sabemos que a escola é um dos ambientes mais eficazes para o desenvolvimento do indivíduo; é um território fértil para aumentar o foco e aprimorar as habilidades socioemocionais, gerando um impacto duradouro dentro e fora da sala de aula, construindo bons hábitos e condutas para a vida.

Porém, não basta implementar atividades aleatórias que estimulem o “prestar atenção”. O trabalho com a Atenção Plena vai além: são instruções claras, bem fundamentadas, que estimulam o modo como focar e as atitudes a tomar em relação a essa prática, além de aumentar o amor-próprio e o autoconhecimento compassivo, que são essenciais para colher os frutos e determinantes para experienciar a vida em si.

Os alunos podem se beneficiar muito! O córtex pré-frontal – centro executivo do cérebro – é a parte responsável pela aprendizagem dos conteúdos tradicionais como matemática, história, ciências; no entanto, quando o cérebro está estressado e ansioso, essa parte torna-se inativa, dificultando novas aprendizagens e o acesso ao que já se sabe cognitivamente. Com a integração do Mindfulness, é possível acalmar essa área, ativando-a, aumentando a capacidade interna de autorregulação durante momentos de estresse e ampliando o desenvolvimento das habilidades socioemocionais e intelectuais.

Por isso, a metodologia do programa LIM, oferecido para as escolas, é pautada e estruturada no Mindfulness, na necessidade de estar presente no instante presente, para o desenvolvimento integral do ser e utilizando a potente máquina humana para florescer e evoluir.

Por:

Luciana Fogaça

Psicanalista, instrutora de Mindfulness e pós-graduada em saúde mental