- 5 de dezembro de 2018
- Posted by: Admin
- Category: Blog LIM
Não raro, a sociedade se alarma com acontecimentos que conseguem agredir e mobilizar os sentidos e as emoções de um grande grupo de pessoas. Acontecimentos escabrosos, que vez ou outra nos assolam, são chacoalhões, que funcionam como um despertador, um chamado para que cada um se atente à qualidade e aos direcionamentos dos papéis sociais e afetivos que têm exercido. O imaginário se aflora, as emoções se misturam e, em meio aos sentimentos de solidariedade (“que difícil uma família passar por isso!”) e de alívio (“Graças que não aconteceu comigo!”), vive-se o turbilhão emocional que desorganiza.
Familiares e educadores, altamente mobilizados, buscam respostas, que o conhecimento pode ofertar, ao mesmo tempo em que se agarram em sua fé. Parece que acordam de uma letargia, de um sono que obnubila a visão de si, do outro e do mundo em que estão inseridos.
Fatos chocantes, como o da Baleia Azul, provocam estranheza – “que mundo é esse que vivemos?” Confusão – “o que faz com que adolescentes entrem nesse jogo?” Assusta – “como seres humanos podem engendrar tamanha maldade?” Amedronta – “isso pode acontecer na minha família?” Gera insegurança – “será que estou conseguindo bem formar os meus jovens?” Ou seja, vive-se a angústia que essas emoções suscitam, além da dúvida em relação ao poder da formação humana, das virtudes, da fé e da Educação.
E a pergunta recorrente é: Será que o que temos produzido será suficiente para que nossos jovens resistam e escolham viver como seres humanos complexos, sensíveis e conectados ao mundo objetivo e subjetivo que os circunda? Esses fatos fazem-nos lembrar da nossa finitude, dos nossos limites e dos limites dos projetos e dos nossos sonhos…
Em uma sociedade em que a comunicação virtual está em alta, em que muito se resolve com pequenas tags, imagens, ícones com carinhas ou replicando mensagens escritas por outrem, o poder do olhar que organiza, que perscruta, que comunica e que compreende parece duvidoso. Num contexto em que as pessoas não suportam viver frustrações (Pondè) e que nunca receberam um não, o valor das virtudes parece obsoleto. Na sociedade líquida (Bauman) ou Desbussolada (Lipovetsky), dar limites, atenção, conversar: ouvir e falar, direcionar, mediar, ou seja, exercer o papel de autoridade, ser presente, corporificado e tridimensional, parece ser remar contra a maré.
A vida não nos oferece nenhuma garantia e nem respostas óbvias. Os nossos jovens, a muito sabemos, não tem no Youtube um manual de como cada um sente, pensa, age e reage. Quanto mais complexa for a sociedade em que vivemos, mais complexos serão seus instrumentos sociais, seus modos de ler o mundo e de conviver. A delicadeza das relações humanas e da formação de uma pessoa, passa pelo olhar atento e cuidadoso de toda uma comunidade.
Muitos de nós vivemos a ambivalência de desejar construir um mundo de virtudes para todos, ao mesmo tempo em que se fecham em suas casas e em seus grupos na web. Muitas pessoas acabam valorizando e dedicando um tempo enorme, que não é dimensionado, para constatar o número de curtidas de sua página virtual, em detrimento da convivência presencial.
Não temos respostas simplistas para a complexidade da vida humana e de suas escolhas. No entanto, podemos pensar mais, nos ajudar mais, conversar mais, apoiarmo-nos mais. Juntos somos mais fortes e com mais possibilidades que sozinhos. Sobretudo, criarmos mais redes de oportunidades para cuidar mais dos nossos jovens. Cuidar da nossa casa e da casa maior que nos abriga, no sentido que Boff (2011, p. 190) propõem:
Tudo o que vive precisa ser alimentado. Assim o cuidado, a essência da vida humana, precisa também ser continuamente alimentado. As ressonâncias do cuidado são sua manifestação concreta nas várias vertebrações da existência e, ao mesmo tempo, seu alimento indispensável. O cuidado vive do amor primal, da ternura, da carícia, da compaixão, da convivialidade, da medida justa em todas as coisas. Sem cuidado o ser humano, como um Tamagochi, definha e morre.
Os laços, entre as pessoas, garantem e enfeitam a existência humana e a deixam mais prazerosa e bonita. Tornamo-nos mais corajosos, quando apoiados e com melhores condições para amar e ser amado.
Por:
Isabel Parolin
Psicopedagoga e escritora