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Se para os adultos é complicado falar de emoções e sentimentos próprios, imagine para uma criança que ainda não entendeu o motivo pelo qual não pode comer todos os chocolates da caixa de uma única vez, nem assistir TV ou ficar nas telas o dia inteiro.

De fato, não é tarefa fácil, ainda mais por emoção se tratar de um conceito tão abstrato. No entanto, quanto mais cedo as crianças aprenderem a identificar e compreender as suas emoções, mais fortes emocionalmente elas serão. Como os adultos, as crianças também ficam com raiva, sentem medo, frustrações, ciúmes e vergonha, mas elas ainda não conseguem expressar com clareza o que estão sentindo. Dessa forma, fica difícil a elas entender e administrar suas emoções de forma positiva.

Uma criança que não tem o vocabulário emocional desenvolvido pode dizer: “Não gosto mais de você”, “Estou com raiva”, ao invés de dizer: “Você me magoou”, ”No momento, estou com raiva e não quero conversar.” O objetivo desse princípio é ampliar a base, a fim de que a criança tenha clareza de suas emoções e de seus sentimentos.

As crianças espelham-se nos adultos; por isso, é importante que eles mantenham o desenvolvimento emocional como prioridade, revisando os comportamentos diante das diversas situações cotidianas.

É importante que a criança perceba que os adultos não são infalíveis. Eles podem dizer: “Fiquei com raiva do meu chefe hoje, mas respirei, tomei uma água e falei com calma sobre o que não gostei”, “Hoje senti medo, mas logo pensei em coisas boas e continuei caminhando”. Isso fortalecerá os laços e ainda mostrará que, mesmo sentindo o que sentiu, o adulto usou suas habilidades emocionais para agir assertivamente.

Crianças que gerenciam suas emoções de forma positiva tendem a ter mais sucesso na vida, relacionam-se com mais facilidade, possuem mais amigos e demonstram um comportamento pró-social mais elevado do que aquelas que apresentam dificuldades em lidar com suas emoções.

Seguem algumas sugestões que podem ajudar as crianças a expressarem suas emoções de forma positiva.

 

Ser um exemplo

Todos sentem raiva, medo, tristeza etc.

Porém, sentir raiva não dá a ninguém o direito de gritar com o outro, de perder o controle, assim como o medo não pode paralisar e impedir de viver.

Todos têm o direito de sentir cada uma de suas emoções, mas a forma de agir é que fará a diferença na vida, com o foco em si mesmo e nos outros. Ser um exemplo consiste em saber gerir as próprias emoções e explicar as consequências de um comportamento inadequado.

 

Nomear as emoções

É importante ajudar as crianças a nomear as emoções, por meio de desenhos e expressões. É possível usar a interpretação para encenar uma situação na qual tenha sentido medo, raiva, tristeza, alegria; depois, pedir a eles para adivinhar qual o sentimento foi apresentado.

 

Identificar com clareza

Muitas vezes, a boca está dizendo sim, mas o corpo diz não.

É importante observar o comportamento das crianças, de modo a ajudá-las a identificar com clareza o que estão sentindo.

Uma vez, uma criança chegou triste depois da aula e disse que estava cansada, mas o seu rostinho e seu comportamento demonstravam tristeza.

Então, foi proposta a ela uma brincadeira chamada Detetive das Emoções. Com o apoio da representação de emojis, explicava-se o que representava cada um deles. Quando apareceu o emoji da tristeza, a explicação foi que, muitas vezes, a tristeza aparece quando há contrariedade ou quando algo não sai conforme o planejado. A criança, então, confirmou que não era cansaço, e sim tristeza o que sentia, porque a amiga não quis se sentar ao seu lado na hora do lanche. Por trás de um comportamento, tem sempre um sentimento, e é importante estar atento!

 

Instruir agindo positivamente

Não existe emoção certa ou errada; todas elas influenciam nas decisões e nos comportamentos.

A raiva pode impulsionar para uma tomada de decisão. Ao fazer uma viagem de férias, uma pessoa teve uma mala extraviada. Ela ficou com muita raiva e poderia perder tempo discutindo, mas resolveu pensar na família e no exemplo que daria para os seus filhos. Então, seguiu os procedimentos, preencheu os formulários, e apagou o incêndio com bom humor.

A escolha é sempre de cada um.

Quando as crianças identificarem as suas emoções, independente se a atitude foi positiva ou não, deve-se elogiar o fato do reconhecimento e conversar com ela sobre o que poderia ter sido diferente, se houve ou não consequências.

 

Recapitulando

É importante dedicar alguns minutos de seu dia para, simplesmente, ouvir o que a criança tem a dizer. Certamente, será possível descobrir muitas manifestações de emoção durante esse momento. Depois, é possível retomar o ponto inicial da conversa, a fim de que ele tenha a oportunidade de identificar e nomear as emoções presentes.

Exemplos: “Você disse que brincou muito com o seu amigo, mas ele não quis ficar com você no intervalo. O que você sentiu?”; “Você contou que estava assistindo a um desenho, mas a sua irmã mudou de canal. O que você fez? Como você ficou?”

Será um processo incrível, e isso incentivará a criança a identificar, entender e administrar uma ampla gama de sentimentos.

 

Praticar a atenção plena e desacelerar

É possível escolher alguns momentos para realizar atividades com as crianças, sem pressa. Pode-se mostrar para elas que é importante prestar atenção em todos os detalhes: “Se estiver passeando, sinta o ar, respire conscientemente, observe o que está acontecendo, perceba o que antes não tinha percebido, sinta o que antes não tinha sentido.”

Estar presente é um dos recursos incríveis para compreender o que se passa dentro de cada um. O estado de calma traz muitos benefícios para o corpo, física e mentalmente.

É preciso desempenhar um papel importante na vida das crianças, sendo uma inspiração para elas! É preciso lembrar-se sempre da importância de sua contribuição para ajudá-las a compreender o que sentem.

 

Por:

Luciana Fogaça

Psicanalista, instrutora de Mindfulness e pós-graduada em saúde mental



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