LIM Educação

Estávamos numa reunião, com familiares de uma escola, discutindo as mudanças que as novas configurações familiares promoveram no papel dos avós, na educação de crianças e jovens. Em meio aos depoimentos e colaborações, uma avó assim se manifestou:

Eu recebi um neto que já veio pronto. Meu filho casou-se novamente e a esposa dele, também divorciada, tem um filho de 8 anos. Ele já veio pronto! Preciso aprender a ser avó dele. Para os meus netos eu sei o que cozinhar, a sobremesa preferida deles, as brincadeiras que os distrai e, até sei bem, como fazer umas chantagenzinhas, quando necessário. Porém, com esse meu neto-novo, ainda não acertei nenhuma. A carne que eu faço, e que meus netos adoram, ele não come, porque tem cebola; faço um pudim que todos acham delicioso, ele não gosta de pudim. Quero agradar, ser avó dele, até porque a mãe da minha nora, certamente, também está adotando o meu neto… Que situação difícil! E mais: como amar igual aos netos que embalei, troquei fraldas, ensinei cantigas, contei histórias, acompanhei passo a passo? Situação complicada, vocês não acham?

Todos ficaram pensativos. De repente começaram a palpitar:

Claro que não é igual! É relação diferente. Nem tente, não vai conseguir. Avó é avó e pronto!

Acho que é diferente, sim, mas acho que você pode vir a amá-lo se vocês tiverem oportunidade de se relacionarem. Se tua nora deixar, se os outros avós não te cortarem, se teus netos não ficarem com ciúmes, se você estiver afim, mesmo! Mas, que a situação é complicada, isso é!

Não acho tão complicado assim. É simples: não é neto! É outra coisa, menos neto. Neto é aquela criança que você acompanhou, viu nascer, deu papinha, trocou fralda.

Discordo! Minha mãe mora fora, vê meus filhos uma ou duas vezes por ano e é uma super avó! Ser avó é um lugar que se ocupa na vida das crianças e não tem nada a ver com sangue, tem a ver com “estar presente”, se preocupar. As tecnologias estão aí pra isso! Tem relação com amor, com disponibilidade, com doação. Desculpem-me, mas discordo mesmo!

Bem, eu não tenho os meus pais vivos e o meu marido só tem o pai que é idoso. Temos um casal, pais de amigos nossos, que adotaram meus filhos como netos e eles adoram esses avós emprestados. Eles combinaram que são “avós de cuspe”. Não sei como seria se meus pais fossem vivos. Acho que seria diferente, mas é o que temos e tem sido bem bom, pra todos nós.

Será que a coisa não seria a gente viver o que tem? Tipo, o amor que dá pra ser, que estiver disponível, no lugar que for possível?

E assim prosseguiram, numa troca muito construtiva e numa direção muito bonita.

Chegamos ao final da roda de conversas tendo claro que não existe o certo e o errado, o melhor ou o pior, mas o que é possível, de acordo com a disponibilidade e o tamanho do coração de todos os envolvidos. Os papéis afetivos são alimento importante na vida das crianças e jovens (e dos adultos, também), no entanto, para que ele se legitime como verdadeiro ou não, no seio da vida familiar, é indispensável que os adultos “autorizem”, não apenas em palavras, mas em gestos e em intenções.

A legitimidade dos avós, na vida das crianças e jovens, se fará a partir da validação, intencionalidade e capacidade de amar, incondicionalmente, de todos os familiares. Viver o que é possível, da melhor maneira. A sociedade atual propõe uma aprendizagem, que é um instrumento valioso para o enfrentamento das situações que não soam como familiares ou corriqueiras: a flexibilidade. Ser flexível é desenvolver a capacidade de ampliar ou modificar o raciocínio e a compreensão de um determinado fenômeno. A arte de compreender, avaliar, aceitar ou não e promover mudanças, de acordo com as circunstâncias objetivas ou subjetivas, independente do nosso desejo e ideação. Sobretudo, há de se atentar para o fato de que a flexibilidade pode ser ponto positivo: quando agrega um valor à pessoa e favorece a sua adaptação – maleabilidade, no entanto, pode ser ponto negativo, quando traz como consequência fracassos. Ex: uma pessoa muito flexível pode perder seu foco. Ser flexível sem ser submisso, nem permissivo.

Os novos modelos de família, a ampla oferta de possibilidades de morar em outros locais, acabam promovendo esse tipo de reflexão e busca de outras ou novas estratégias, que ampliem o campo afetivo e cognitivo de todas as pessoas. As crianças precisam de diferentes amores, para ampliarem seu repertório afetivo e suas formas de amar. O cuidado, o carinho, a atenção e o amor são sempre bem-vindos e só faz bem… a todos!

 

Por:

Isabel Parolin

Psicopedagoga e escritora



Deixe um comentário

×